© rabiscos vieira
a propósito do lançamento do Caim, Saramago malha na bíblia para atingir de tabela a Igreja,
sing me something new (caralho, é preciso audácia para glosar um disco do narcótico david fonseca num post sobre o nosso prémio nobel, mas o david tem direito à vidinha, afinal leiria não é só castelos, isabel damasceno e um estádio com bolor), digamos então que o Saramago também tem direito à opinião, e há que dar o desconto a um ancião que vive enfiado há anos num aglomerado de calhaus vulcânicos com praias piores do que o eixo esposende-apúlia, e nem estou a ser condescendente, adoro-lhe os livros, deploro-lhe a tendência para as declarações públicas, mas enfim, caiu-lhe no goto o espicaçar e as madalenas vão atrás, umas bradam contra a ignorância, outras contra a má-educação e as mais equivocadas censuram-lhe o golpe publicitário em favor das vendas, como se o tipo precisasse de campanhas extra para vender a rodos, não é preciso ser um gajo do ramo para saber que os livros do bicho são best-sellers por natureza há anos a fio, o que se passa é que ele tem a língua solta e quanto mais velho mais impune, acontece a todos, do patriarca dos simpsons aos cotas de jardim, aliás, quando li as declarações em forma de bulldozer do José lembrei-me até de um casamento a que fui aqui há um ror de anos, na igreja da pontinha. Um calor dos diabos, os noivos nas assinaturas e o povoléu à saída, à espera de bradar um
viva os noivos acompanhado da clássica chuva de arroz carolino, e o casalinho que nunca mais saía, e uma convidada septuagenária que se toma de impaciências, e os ares da pontinha que são propícios à maluqueira, e quando eles finalmente assolam à soleira da porta da igreja, dois segundos antes de se passearem entre a turba, a velha dá o passo em frente, sozinha contra todos num espectacular gesto de antecipação, e assesta-lhes com o arroz nas fuças, tem idade para fazer o que quer, para ser impune, para desconcertar os noivos, o patriarca de lisboa e o líder da comunidade judaica, os crentes e os que não gostam de troglodices, mesmo que caucionadas pela academia sueca. Dizer que a bíblia é uma farsa cruel aquece pouco, arrefece ainda menos, é tão relevante como uma chuvinha de Cigala antes do copo de água, deixem lá o Saramago brincar aos bagos. O que importa é que se este Caim chegar aos calcanhares do elefante Salomão já não será mau, graças a deus. Ou não.