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tem a sua graça aterrar num festival de música em fase de construção sem empresas como aquela do genro do cavaco ao barulho, sem avalanches de patrocinadores e brindes e flyers e rodas gigantes e elásticos que seguram os pés dos festivaleiros em queda livre, como o nosso pib, coitadinho, sem tralha, diria eu para simplificar, um gajo aterra e vê gente da terra, passe o pleonasmo, vê voluntários, equipas e dedicação, não vê cargos, vê corações, não há sponsor in chief, CEO, road não sei quantos, sales manager não sei que mais, há o rui, a daniela, a célia e a cristina, o luis e a inês, a mariana, a lúcia, a rita e o rufino e a susana e os primos, que engajam tios e avós, há fornadas de operários culturais como lhes chamou o repórter do público, um gajo aterra, já o disse, e vê o formigueiro em ebulição, melhor, um gajo aterra e vê a colmeia em ebulição, que do formigueiro ainda percebemos a lógica de contacto antena-a-antena que permite às pequeninas transportarem centenas de vezes o seu peso na lógica eterna do aforro, enquanto que do trabalho da colmeia entendemos muito pouco até jorrar mel dos favos, por aqui centenas de obreiras e zangões zumbem na aldeia de cem soldos numa organização sem espinhas, diz que as abelhas nem sequer as têm, ao contrário dos piores carapaus de corrida, a aldeia de cem soldos, então, transformada num daqueles cortiços perfeitos que até já foi logótipo da cdu, e aqui o rapaz com o seu nariz de intruso fareja a forma de os bons sons se organizarem em coligação democrática e unitária, um por todos, todos pelo festival que traz ao campo a nata da música à portuguesa com a ajuda de gente improvável como o khadafi - aqui parecem ignorar que o líbio morreu e insistem que é ele que trata das lonas - ou como a moça chilena que ajuda na cozinha do colectivo, permanentemente pejada de alguidares com batatas descascadas, a cozinha, não a moça, batatas que são ouro para a boca dos voluntários numa altura em que portugal anda curto de lingotes, ou como o aldeão de óculos e testa suada que se passeia num porta-paletes permanentemente lotado de barris de cerveja, não sei se sabem mas o campo dá sede, o trabalho idem, o rock muito mais, amanhã começam as afinações e as vendas das tixas, abreviatura de um conhecido lagarto nacional, a culpa não é minha se a fonética remeter para a maroteira, até já ouvi dizer que à imprensa se oferecem tixas das grandes, abrenúncio, e as montagens de backlines e o soundchecks e as tarolas e os adufes ao despique em frente ao público amigo do decibel. vai ser bonita a festa, pá. palavra de imperial. a setenta cêntimos.