um dia ainda me alcunham de perdigueiro, tal é a minha propensão para farejar as vidas dos outros, sobretudo se forem públicas e acompanhadas de cocktails e acepipes do vitor sobral, pela minha rica saúde, aquele senhor encavalita muito bem enchidos sobre pão arraçado de broa e só cobra duas mãos-cheias de euros por um prego e uma imperial no seu barraco em campo de ourique, uma pechincha mesmo em tempos de baixa cotação junto das agências de rating que terão estado afastadas da nova babel, coitadinhas, caso contrário teriam de dar nota Standard à beautiful people possível e Poor's à escolha de livros encavalitados em andaimes; gravatas e tábuas rudes em partes iguais, os primeiros dão gabarito a qualquer festa, as segundas poderão ser o pesadelo dos livreiros lá do sítio se algum dia tiverem de movimentar os canhenhos de um lado para o outro, mas talvez não tenham de fazê-lo se a rotação for baixa e a escolha continuar limitada aos editados pelo grupo, agustina e noddy (por enquanto), aristóteles e detective maravilhas, pessoa e buffy, por aí fora. lá pelo meio também balançavam outros livros, pendurados em ganchos, e um ou outro exemplar das viagens na minha terra com vampiros, mais uma pérola lançada a cavalo no sucesso da stephenie meyer, qualquer dia vamos à praça e até as pencas e brócolos têm caninos afiados, enfim, para não destoar do ambiente de terror juro por todos os santinhos que a minha antiga professora de geometria descritiva estava na inauguração, abrenúncio, e eu todo a suar frios, a lembrar a linha de terra e a intersecção do plano alfa com o beta, a intersecção do jorge de sena com a sabrina, a bruxa adolescente, cada um tem as fantasias e efabulações que merece. concreta, concreta, foi a presença de um conhecido homem do gadanho que já tive ocasião de surpreender noutras circunstâncias do retalho livreiro e a quem vi sair abastecido enquanto o povo aplaudia os responsáveis do grupo que discursavam alheios ao amigo do alheio, passe a redundância, nada como filar uma livraria acabada de inaugurar, é de ladrão bem informado do agenda setting, o que é de louvar, e quando a maralha abriu espaços também lá vi pelo menos um par de irmãos lobo antunes, que engalanam qualquer evento, e um conhecido catedrático marxista, e um daqueles aparelhos que fingem ter livros lá dentro, e um cubo tecnológico do qual me mantive prudentemente afastado já que tenho tendência para deixar cair/danificar tudo o que é electrónico, o telemóvel, o ipod, a boneca insuflável, pus-me antes a mirar o bar que dá para o centro de arte moderna e os convidados que se passeavam com o diário económico, que por estes dias acerta quase tanto como o almanaque borda d'água. uma agitação. nesse mesmo dia, mais à noitinha, o grupo porto editora/sextante/lisboa editora/areal editores/bertrand/quetzal/mestre maco/malhas tiffosi lançou o Submundo do Delillo. menos acepipes, menos gravatas, mais literatura. uma jornada em cheio.