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toda a gente está de acordo, o tempo é o maior dos tiranos, baralha tudo e volta a dar, introduz paz rancor mudanças, sara e mantém chagas vivas, faz mudar, faz temer, mas dificilmente traz mais do mesmo a não ser que trabalhemos num bairro fiscal e mesmo aí teríamos de fazer adendas sucessivas ao código do iva, ao do imi e do imt, que isto está na bancarrota, há dez anos não estávamos, víamos o futuro com confiança, eu via barcelona pela primeira vez, e desde aí tanta coisa trocou de lugar, moradas, empregos, homens e mulheres, esperanças e desilusões, forças e fraquezas, e eis senão quando volto a entrar na llibreria st jordí à carrer ferran e a sensação é a de mergulhar numa cápsula onde o tempo não anda, não bule, tudo tem de mudar para que volte a ficar na mesma lá dizia o lampedusa, que há-de andar perdido nas pilhas de canhenhos da st. jordí, os mesmos montes, os mesmos monos, os mesmos tomos de carteles de guerra, o mesmo velho republicano com ar amargurado atrás do balcão, e o filho em pé do lado de fora, a arengar sobre qualquer coisa que o incomoda para além das cãs que lhe vão canibalizando a cabeça, tenho pena de não entender o catalão para saber o que é que o faz arengar há dez anos consecutivos com o mesmo cenho franzido, mais ou menos imóvel, só sei que um batut maduixa é um batido de morango e que o barça é mes que un club, quanto ao resto nada sei, mas também já estou habituado à desdita de alancar com a ignorância ao lombo, cada um é para o que nasce, aqueles dois para serem livreiros icónicos de maus fígados, para serem uma âncora das minhas pequenas memórias. livreiros por quem o tempo não passa, na cidade gótica, mestiça, de frente para o mar que engana de tanta mansidão. o tempo? foda-se, o tempo.
ontem um leitor disse-me que tinha o meu livro porque um seu amigo chamado pedro vieira lho tinha oferecido. achou graça ao nome. ao menos isso.
por falta do penduricalho "do not disturb" na porta fui visto em cuecas pela camareira do hotel, sem mais moléstias. como se uma não fosse suficiente.