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a falácia que reza "não tenho tempo para ler" é coisa que encanita, há sempre tempo para ler, há sempre mais tempo para ler, o que se passa é que trabalho, outros lazeres, seriados, internetes, viagens, amores, mergulhos e obrigações, olhar para a parede e ronha e discos e concertos quando sobra para o bife, e tudo e mais um par de sanjos, fazem com que a leitura mesmo de livros que é ler mesmo a sério daquela com lombada e jornais não contam encolha, mirre, se esconda, e depois vem a culpa, a ladainha da formação judaico-cristã, porque é que, para o ano coiso, enfim, ainda assim pus os olhos da esquerda para a direita, de cima para baixo em três dúzias de canhenhos e mais uns pozinhos, e desses destaco dez.
"purgatório", tomás eloy mártinez, porto editora
"a grande arte", rubem fonseca, sextante
"o homem que gostava de cães", leonardo padura, porto editora
"os dias de davanzati", hector abad faciolince, quetzal
"extremamente alto e incrivelmente perto", jonathan safran foer, bertrand
"a ilha de caribou", david vann, ahab
"jesus cristo bebia cerveja", afonso cruz, objectiva
"dois rios", tatiana salem levy, tinta da china
"os cães de tessalónica", kjell askildsen, ahab
"a arte de viver à defesa", chad harbach, civilização
e a pairar por cima deles mais um, o que me encheu mais as medidas, ainda por cima de um autor chamado Sandro, para o ano hei-de cantar loas a um Ruca ou a uma Carina, assim o senhor o permita, que é como quem diz, vitor gaspar. lede, lede e sede felizes, e se não puderdes comprá-los juntai-vos a eles. nas bibliotecas públicas, por exemplo, enquanto las hay. é como as bruxas.
aqui há (muito) atrasado havia um programa de rádio aos domingos chamado "força total à música nacional", emitido a partir da margem sul, conhecida nalguns circuitos à rua soeiro pereira gomes como "a margem certa", são coisas deles, e foi por me lembrar desse programa que muito me deleitou e instruiu que resolvi fotografar algumas pérolas de produção caseira que me abençoaram durante o ano de 2012, que não é o de todas as desgraças porque vem aí 2013, mas adiante, orelha negra, norberto, chullage, entre outros vilões, a fazer companhia a outros actores da secção internacional, que estima pelo que é nosso é bom, mas temperada, porque o nacionalismo é mau como o caralho e a europa das nações já o provou à saciedade (andava mortinho por escrever à saciedade, como os cronistas crescidos e remunerados), os lusos na companhia dos outros, pois claro, dos django django, é que gosto de dançar, pronto, e dos alt-j que agora ganharam prémios, situação que faz deles proscritos, e dos beach house a cavalo no bloom, e do james blake (é de 2011), do el camino dos black keys (é de 2011), do watch the throne daqueles dois pretos gostosos (é de 2011), e dos metronomy (é de 2011), maldito calendário, e sobretudo do different class dos Pulp (é de não sei quando), pois gosto cada vez mais dele, por razões musicais, pessoais e pelo resto. olhem, escutai e multiplicai-vos.
Ruca garante que o passos esteve a mandar uma mensagem de boas festas ao país.
uma espécie de natal antecipado, poder desfrutar da inteligência, verve, optimismo, sabedoria, erudição, sageza, simplicidade que é igual a lucidez, inquietação de um amigo, muito bem paginado, melhor pensado, cortesia Tavares da China, ler e aprender, dobrar a página e entrever uma luz ao fundo do túnel europeu que não seja a de um tgv, há gente que não se conforma com a inevitabilidade, há inteligências que nos proporcionam um quentinho no coração, há homens que tentam fazer a diferença e pela positiva. despertar os europeus para a sensaborona europa não é pêra doce, quem já provou couves de bruxelas que o diga. o autor atreve-se. eu como amigo e leitor agradeço-lho. eu como amigo presto pouco, o nepotismo que se foda. eu como leitor aplaudo e recomendo. coitado do Rui. coitado do livro.
põe-te fino, cidadão, fino e em silêncio, porque se topam contigo a falar alto na rua na companhia de um amigo, na companhia da tua irmã, da tua namorada ou namorado, do teu barbeiro ou de alguém que te perguntou as horas, ainda te processam filam arrastam para uma esquadra para prestares esclarecimentos, tem graça, aqui há atrasado a minha mãe contava que nos gloriosos tempos do estado novo a polícia mandava dispersar à cacetada todo o grupo de três pessoas que se atrevesse a conversar aos pés do elevador de santa justa, zona na qual ela trabalhava como costureira, ao passo que o meu pai era electricista, ambos com a instrução primária e com os rios de angola na cabeça e com vontade de porem os filhos a viver melhor, pobres ingénuos, e conseguiram-no, graças à educação à saúde à segurança social públicas, na verdade todo um desperdício que dinheiro, o estado deve investir é nas funções de soberania e desfazer-se do resto, vender electricidades, águas, anas, comprar submarinos e cacetetes e polícias zelosos (zelotas) que dizem à boca cheia "duas pessoas já fazem uma manifestação". põe-te fino, cidadão, que os tempos estão de chumbo.
Para a PSP duas pessoas são uma manifestação
Ruca recusa-se a ir ver o amour do haneke porque se for como o do passos depois não há quem consiga sentar-se.
Sandro não percebe por que é que se trocou um morto por outro.
hoje é dia de entrega dos prémios PEN, aqueles prémios que acabaram por trazer novo fogacho de visibilidade a um livro que escrevi e que, imagine-se, tem massamá no título, se fosse brincar aos nostradamus para o caralho é que eu fazia bem, mas dizia, hoje é dia de entrega de prémios, louvores e beijinhos, de agradecer, de cumprimentar, de ritualizar e de receber o respectivo cheque, que tanto jeito dá a todos e a cada um, sucede que eu fui criado e educado ao colo do catolicismo minhoto e que, apesar de me ter deixado de crenças, essa educação nunca me largou o cangote, talvez por ter sido baptizado numa sé, ou por ter desfilado em procissões, ou por ter adoptado um alter-ego fatimista, ou por nunca deixarmos de ser verdadeiramente aquilo que fomos, e numa época em que a minha comunidade se está a afundar, em que as meninas da caridade ganham relevo, em que os que me estão próximos temem pelo desemprego pelo fim do mês pelo recibo verde pela prestação da casa pelo passe que aumenta sem razão pela próxima carta da segurança social, sinto um mal-estar difuso por estar a ser agraciado, com elogios e com alguns euros que muito provavelmente estão para acabar, afinal de contas limitei-me a escrever, a pensar e a escrever, concedo, verbos que não têm nada de especial quando a narrativa colectiva é contada ao ritmo da violência social, da inevitabilidade, da ideologia mais selvagem que se serviu do papão exterior e tripartido como pretexto para ceifar a eito a esperança de quase todos, ceifar a eito, está giro, deve ser isso a aposta na agricultura, queres ver? hoje é dia de entrega de prémio e de enfiar a minha carapuça da culpa judaico-cristã, numa terra que é tudo menos prometida. quem me dera antes que.