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une petite histoire que pode ou não ter a ver com eleições, quem a ler decidirá (olá senhores fiscais, o que querem para almoçar), de um lado a multinacional Adecco, especialista em trabalho temporário e em precariedade e em call-centers, com sede na suíça, o paraíso na terra segundo henrique raposo e outros revolucionários que gritam aos cães "no pasarán", do outro a câmara da guarda, que em 2009 investiu 400 mil euros numas instalações que pudessem acolher a Adecco mais o seu centro de apoio a clientes e a sua lógica de gente descartável e etc, e assim foi, tudo cor-de-rosa, empregos criados na região e a multinacional isenta de renda e com o encargo de pagar a água e a luz da propriedade que é pública, e que serviu para captar o mítico investimento estrangeiro que agora, 4 anos depois, vai dar às de vila-diogo, deixando os trabal... os colaboradores no desemprego, porque afinal não há massa crítica para fazer negócios no interior e tal, é assim, voam para parasitar outra região, outro país, o dinheiro público investido e as taxas e rendas perdoadas vão com o caralho, 250 vidas também, mas lembrem-se, as gorduras do estado é que estragam tudo, mais os velhos e os doentes do SNS, longa vida ao ajustamento e à iniciativa privada que resolve tudo, menos quando foge da beira alta sem olhar para trás, se bem que tudo isto deve ter acontecido por uma boa razão, afinal de contas são sérios, afinal de contas são suíços.
Sandro tem pena dos gunas que já sonhavam com a ida à ópera.
nasci em 1975, já depois da revolução de abril, comemorada pelo governo de durão barroso como uma "evolução", não sei se estão lembrados dos cartazes, mas isso agora não interessa nada, nasci depois da ditadura e de detalhes como a censura prévia, cresci e formei-me entre a liberdade de imprensa, fiz visitas de estudo à capital no bairro alto, disputei palavras cruzadas do diário popular, do correio da manhã, pedinchei repetidamente à minha mãe uns trocados para comprar o independente e o sete, e mirava à socapa as páginas centrais do correio de domingo, e lia o blitz dos colegas da escola, o dn quando espoletou o dna, se não me engano lançado no ano em que comecei a trabalhar para alívio do orçamento lá de casa, e o público, que já não é o mesmo mas que continua a ser meu, e durante todos estes anos já li muita coisa que me empolgou, muita coisa que me frustrou, muita coisa que me chateou, muita prosa certeira, desonesta, esclarecedora, repelente, animadora, séria ou especulativa, mas excepção feita ao joão césar das neves, transformado numa espécie de ídolo camp das segundas-feiras, há muito tempo que não lia nada tão filho-da-puta como aquela crónica do henrique raposo, AQUELA que se refere à relação da esquerda com a pedofilia, talvez porque raramente leia o expresso, o tal semanário de referência, lá no jardim-escola para pessoas de esquerda onde passo os meus tempos livres a fechar os olhos ao abuso de crianças ainda não o assinaram, uma pena, mas atenção, eu próprio gosto de ser provocador, infame, até, a espaços, mas não tenho categoria nem inteligência nem sageza para ter uma tribuna no jornal que arriscou fazer a sua primeira primeira página com uma alfinetada ao regime do marcello (o outro), nem a categoria nem a Responsabilidade de escrever coisas minimamente consequentes numa publicação onde escrevem pessoas inteligentes de que nos é permitido discordar, miguel sousa tavares et al, e uma das coisas que me custa é que, talvez movido por uma cumplicidade de classe (adoro coisas demodés), eu até costumava ter uma simpatia de princípio para com o henrique, embora discorde de quase tudo o que ele escreve, e essa simpatia, serôdia talvez, tem a ver com as suas origens, com as nossas origens, proletárias, sem pergaminhos familiares nem laços às elites, origens mais amarradas à periferia e menos aos salões bem-pensantes, mais subúrbio, menos são bento, simpatia esboroada menos num pormenor: é que à semelhança do voltaire (adoro coisas demodés), eu discordo das canalhices que ele escreve mas estaria disposto a defender o seu direito à escrita, à publicação, até à morte, se as mesmas estivessem ameaçadas. só não deixaria de mandá-lo para o caralho à saída da gráfica.
acabar com o inglês no primeiro ciclo em nome da liberdade de escolha, financiar o negócio privado da educação com o cheque-ensino em nome da liberdade de escolha, acabar com o ensino obrigatório em nome da liberdade de escolha, extinguir o salário mínimo em nome da liberdade de escolha, acabar com as contribuições obrigatórias para a segurança social em nome da liberdade de escolha, deixar por tributar mais-valias e capitais aos saltos em nome da liberdade de escolha, acabar com o plano nacional de vacinação em nome da liberdade de escolha, extinguir o código da estrada em nome da liberdade de escolha, deixar de comparticipar medicamentos com o dinheiro do orçamento de estado em nome da liberdade de escolha, pôr um tecto nos rendimentos sujeitos a impostos em nome da liberdade de escolha, mandar os cangalheiros do país levar (tomar?) no cu em nome da liberdade de expressão. e de escolha.
o meu lado bera diz "era fazer-lhe como à ermesinda do remorso". o meu lado bom diz "ora foda-se, mas alguém tem um lado bom?".
tenho tanto orgulho no nosso trabalho. e nos meus camaradas. embrulha, CNE.
a Revista LER refundou-se e aí está ela de volta e os meus rabiscos, agora cartoons e derivados, continuam a acompanhá-la, coitadinha, uma publicação plena de dignidade infectada por inputs de escumalha que se formou na escola pública, toda a imprensa tem aquilo que merece, ma non troppo. ainda assim, la nave va.
e assim chegam os temas fracturantes à campanha das autárquicas.
só hoje uni os pontos mas há tempos o miguel sousa tavares, jornalista e comentador e escritor que acha que os quatro, os doze, os 127 cavaleiros do apocalipse hão-de chegar pelas redes sociais, andava furibundo com as acusações de plágio que lhe fizeram a propósito do "equador", e se é certo que o título foi pilhado ao henri michaux, dificilmente um conteúdo apoiado num triângulo amoroso pode ser apelidado de pastiche, mas enfim, tanto tempo depois descobrimos que o vírus da cópia pode ter-lhe sido inoculado (mesmo que à socapa), é que meses antes da boutade dirigida ao presidente da república, paula rego inaugurou uma exposição em inglaterra na qual brilhava este "the last feed", tela onde brilha um anónimo apalhaçado e alimentado a mama que faz lembrar, digamos, o arauto de boliqueime. é como diz outra escritora, jornalista, prefaciadora: não há coincidências.