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sinto que hoje foi um grande dia para a democracia, isto porque participei num processo totalmente novo de primárias, a coreia do norte deu sinais de transparência à conta de uma seca e o grande filósofo josé manuel fernandes escreveu um texto a desmascarar os tiranos comunistas do syriza, com a autoridade de quem apoiou a invasão do iraque, essa notável manobra de exportação democrática, se bem que, na minha modesta opinião, só haverá liberdade e democracia a sério quando houver porco no espeto para todos. a junta de freguesia de santo antónio em lisboa já deu o primeiro passo.
o azar do tsipras é não pertencer à "raça de homens que paga o que deve", como o nosso primeiro-ministro. salvo um ou outro lapso.
Depois de ler o texto de António Guerreiro no suplemento ípsilon a propósito da entrevista de José Manuel Cortês e dos festivais literários, manifestação cultural promotora da mediocridade, das variedades e dos escritores-feitos-churros-e-farturas, confesso que sinto vontade de dar o braço a torcer, que é meu dever arrepender-me dos meus pecados da “promoção” e da vanitas de pacotilha que vou espalhando pelo espaço público, pois afinal de contas, se fosse um autor dotado de mérito e honestidade, melhor, se fosse realmente um escritor, evitaria participar em eventos patifes que só desmerecem a cultura, o saber e a ciência, já para não falar das entrevistas concedidas a órgãos de comunicação vergados aos ditames do Grande Capital (diz-se até que o Pequeno não é melhor), ou dos (poucos, quer dizer, pouquíssimos) autógrafos que dei, das mesas-redondas que moderei, das intervenções canhestras que fiz, dos convites que encetei, dos painéis que organizei, dos jornalistas que seduzi, por minha culpa, minha tão grande culpa, mas sei que ainda vou a tempo de corrigir o meu trajecto, sei que o Novo Testamento e suas doutrinas mo permitem, adeus países-farol que cultivam a obscuridade em forma de rede de festivais, olá territórios que não admitem saltimbancos, quem precisa das trevas britânicas, alemãs ou francesas quando pode desfrutar do brilho dos países que não toleram essas “manifestações culturais”, a Arábia Saudita, por exemplo, ou o Myanmar, que não toleram manifestações de espécie alguma, quanto mais de gente que não se limita a escrever para o seu umbigo, e aqui, em letra de forma, assumo a intenção de ajudar a acabar com falsos ídolos e semi-culturas, mesmo quando estes nos surgem de forma velada, escondidos atrás de catálogos impecáveis ou discursos refractários. Daqui em diante, nem mais uma subscrição de newsletter da Antígona, mesmo que esta traga uma novidade escaldante em defesa do anarco-sindicalismo ou uma autobiografia de um bandido que nunca fez parte do BES ou uns papéis perdidos, paginados e encadernados do Karl Kraus. Nem mais uma sessão de autógrafos da Relógio d'Água, entidade que partilha a presença nas feiras do livro (está tudo no nome) com O Pançudo das Bifanas. Nem mais uma compra de livros da &etc, que só seriam dignos desse nome se saíssem directamente da prensa para o caixote do lixo da história, sem lugar a transacções financeiras que só os diminuem. Há quem garanta que há autores publicados nestas chancelas que já aceitaram dinheiro pelo seu labor literário mas custa-me a acreditar. Acredito, sim, que um dia o capitalismo vai falecer, coberto de pústulas e de remoques I told you so gritados por Marx, Negri e o ninja de Gaia, e com ele morrerão as editoras, os eventos e também os jornais sustentados por publicidade, leitores ou grandes cadeias de supermercados com sede no norte do país. E nessa altura, connosco todos em estado de puro deleite intelectual, deixará de haver necessidade de manter entidades estatais de livros e bibliotecas, que no fundo só servem para alienar. E quem diz alienar, diz apoucar.
Pedro Vieira, autor arrependido