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ontem obama anunciou finalmente a desclassificação de documentos relativos à ditadura militar argentina, que contou com o apoio dos estados unidos. hoje morreu johann cruyff, homem que recusou participar no mundial de 1978 organizado pelo general videla e seus comparsas, trocando uma hipótese de glória por uma certeza de carácter.
isto anda tudo ligado.
não gosto de queijo e eu sei que isso é crime de lesa-pátria, um escândalo vergonha embaraço, e eu gostava de gostar, mesmo a sério, adorava ser mais patriota à mesa e compreendo que o amor ao vinho e aos enchidos e ao cozido não chegue, que não faça as vezes do amanteigado, do limiano, do da ilha, enfim, todo o homem tem os seus defeitos e as más relações com este alimento fazem parte dos meus, mas uma coisa é certa, quando determinadas causas falam mais alto o caso muda de figura, e foi a cavalo nessa lógica que fiz uma promessa aqui há atrasado, há muitos muitos anos, a saber, prometi que comeria uma sandes de queijo da serra no dia em que o Cavaco deixasse de vez funções de estado, porque a repulsa que o queijo me provoca nunca poderia ser superior ao alívio que sinto por ver este homem pelas costas, um homem que esteve em funções de relevo durante metade dos meus 40 anos, sem contar com aqueles pozinhos em que foi ministro das finanças, tudo isto sem ressentimentos, claro, porque esse sentimento pertence-lhe quase em exclusivo neste pequeno país, e a mesquinhez idem, e bom, como fui criado no temor ao divino e à parcas e ao são bentinho da porta aberta que pode ser tão generoso quanto vingativo, como gosto de apostas e de desafios e de honrar os meus dislates, hoje foi dia de comprar o pão, o queijo e o vinho para empurrar, hoje foi dia de comer a sandes de fio a pavio, acompanhada de náusea ligeira e de um hurra de contentamento, tudo isto com a preciosa ajuda do tinto nacional. esse sim, nunca nos engana e raramente tem dúvidas.