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há muitos anos assisti a uma espécie de feira das vaidades que se tinha tornado tradição na terra da minha mãe, uma espécie de cortejo no qual um grupo de iluminados dominava as atenções, isto enquanto o povo, que eu na minha arrogância de jovem achava demasiado saloio e crente, abria alas e enchia a clique de vitualhas, cantando aleluias, torcendo as mãos em prece e esperança, o chão todo ele pétalas de flores como se fora passadeira vermelha e a clique lá a vinha pisando, fazia-se anunciar com estrondo e antecedência no meio de sinetas e fanfarras, prometendo a salvação mediante uma fé cega, uns dinheiros passados de forma discreta e uns agrados de boca, era muito importante saber receber para podermos contar com os favores de quem sabe, de quem manda, e tudo isto sem que ninguém questionasse o ar desgrenhado e estranhamente informal do prior, coadjuvado por jovens com ar entre o ausente e o escarninho, cheios de si, mas o senhor padre lá saberia, pois se ele era unha com carne com os mais poderosos, com aqueles que podem mudar a vida dos homens com um gesto ou mediante uma atençãozinha, uma nota num envelope, pois o saber deles estava para além do nosso conhecimento e então lá se faziam passar por portadores da Palavra, perante o estupor e a crença de quem sabe que as maiores graças podem vir de fora, isto se nos portarmos todos muito bem.
foi há muitos anos e por isso já não me lembro se o cortejo se chamava compasso da páscoa ou web summit.