Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

irmão lúcia



Sexta-feira, 17.11.17

cadernos de leitura #10

revol.jpg

excelente síntese de um processo extremamente complexo que marcou o século XX. as principais forças em confronto, a personalidade electrizante e implacável de lenine, a guerra civil, os recuos pragmáticos, a construção do trono de aço de estaline. é uma espécie de versão digest muito bem documentada, capaz de espelhar contradições e processos internos de colisão que demonstram que a revolução não foi monolítica.nenhuma o será, afinal. fica claro o lastro que o processo deixou, nomeadamente ao nível da emancipação das mulheres, da batalha pela instrução, ao mesmo tempo que percebemos que a revolução não devora apenas os seus filhos. a espaços devorou também os seus pais. na terminologia editorial, excelente revolução de outubro para totós. 

edição tinta da china.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Pedro Vieira às 18:24

Quinta-feira, 16.11.17

sopro

esta semana vi pela primeira vez a "janela indiscreta", não o fiz antes porque tinha coisas combinadas. e falo disto porque vim de ver o "sopro" do Tiago Rodrigues no dona maria. ou deveria dizer o "sopro" da Cristina Vidal? não, o "sopro" é do Tiago Rodrigues. como o personagem da janela, como quase toda a gente que escreve, cria, retrata, o "sopro" canibaliza terceiros, vampiriza, desfaz e volta a montar, transformando-os em personagens. a diferença é que neste caso se estende a passadeira vermelha à entidade a quem se arrancou a biografia, num jogo de ficção e realidade sagaz, inteligente, ritmado. elipses, gags, drama, um trabalho de corta e cola notável. como o personagem da janela, o autor e encenador observa, disseca e constrói uma narrativa fazendo uso daquilo que só ele vê. ou daquilo que ele inventa para melhor chegar à verdade. à sua verdade. à verdade que quer oferecer ao espectador. à verdade que o espectador acaba desejando, seduzido pela teia urdida pelo criador. e leva a sua avante com distinção, como o homem da janela. no caso do "sopro" adivinha-se a presença da ficção, apesar de o chavão dizer que a realidade é sempre melhor. o que é facto é que aqui a ficção, manobrada com argúcia, parece ajudar ao encaixar do puzzle de uma vida, a vida da ponto Cristina Vidal. e no entanto, diria que uma boa fatia do público dá a versão dos "factos" como boa, rendendo-se ao espectáculo-homenagem a uma mulher que fez a carreira na sombra e que é puxada com justiça para as luzes do palco. eu próprio o fiz. ou seja, comprei um desejo de verosimilhança. depois, no processo de digestão, pensei no papel que o fictício terá necessariamente de desempenhar no espectáculo. e na armadilha da dramaturgia e da encenação que nos leva a acreditar num real que só o é em parte. será legítimo? diria que sim mas não tenho a resposta definitiva. uma coisa é certa, feliz o espectador que sai de uma sala com matéria para pensar. bravo.

ps: o homem da janela tinha razão, o vizinho era mesmo culpado.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Pedro Vieira às 11:50

Terça-feira, 14.11.17

cadernos de leitura #9

capa.jpg

o cenário é a américa do século XIX mas em muitos aspectos podia ser a américa do século XXI. apesar de a escravatura ter sido abolida há muito, a segregação e os supremacismos estão muito vivos, demasiado vivos. Cora tenta escapar ao destino de grilhetas mas a cor dificilmente o permitirá, uma história mil vezes escrita, e o autor encontra forma de contá-la de novo, de uma forma sagaz, cortante. a fábula do caminho subterrâneo, espécie de hipótese mágica de salvação, é constantemente obrigada a morder o pó do real. e o real é selvagem, apesar de fazer uso do discurso dos homens. o livro não é imprescindível - um django ou um hateful eight cumprem tão bem ou melhor o papel - mas está carregado de ideias fortes. destaco a passagem que alude aos ladrões de cadáveres, destinados a uma faculdade de medicina. corpos de negros, claro, que ninguém protege, guarda ou reclama. e curiosamente é no momento de uma pilhagem do género que um personagem se apercebe de que só na morte, e usados como iguais nas mesas de autópsia, os negros têm direito à humanidade dos brancos. no fundo a estrada subterrânea é uma boa síntese um drama sem luz evidente ao fundo do túnel.

nota ainda para os agradecimentos do autor no final do livro: aos misfits, ao bowie, ao prince, ao álbum daydream nation dos sonic youth que o acompanha em todas as empreitadas de escrita. não há como não amar.

edição Alfaguara

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Pedro Vieira às 11:21


pagamento de promessas para

irmaolucia[arroba]gmail.com

teologia de pacotilha (descontinuado)

professor josé cid

o meu outro salão do reino (descontinuado)

Arrastão



Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2010
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2009
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2008
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2007
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2006
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D


subscrever feeds