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hoje é dia de entrega dos prémios PEN, aqueles prémios que acabaram por trazer novo fogacho de visibilidade a um livro que escrevi e que, imagine-se, tem massamá no título, se fosse brincar aos nostradamus para o caralho é que eu fazia bem, mas dizia, hoje é dia de entrega de prémios, louvores e beijinhos, de agradecer, de cumprimentar, de ritualizar e de receber o respectivo cheque, que tanto jeito dá a todos e a cada um, sucede que eu fui criado e educado ao colo do catolicismo minhoto e que, apesar de me ter deixado de crenças, essa educação nunca me largou o cangote, talvez por ter sido baptizado numa sé, ou por ter desfilado em procissões, ou por ter adoptado um alter-ego fatimista, ou por nunca deixarmos de ser verdadeiramente aquilo que fomos, e numa época em que a minha comunidade se está a afundar, em que as meninas da caridade ganham relevo, em que os que me estão próximos temem pelo desemprego pelo fim do mês pelo recibo verde pela prestação da casa pelo passe que aumenta sem razão pela próxima carta da segurança social, sinto um mal-estar difuso por estar a ser agraciado, com elogios e com alguns euros que muito provavelmente estão para acabar, afinal de contas limitei-me a escrever, a pensar e a escrever, concedo, verbos que não têm nada de especial quando a narrativa colectiva é contada ao ritmo da violência social, da inevitabilidade, da ideologia mais selvagem que se serviu do papão exterior e tripartido como pretexto para ceifar a eito a esperança de quase todos, ceifar a eito, está giro, deve ser isso a aposta na agricultura, queres ver? hoje é dia de entrega de prémio e de enfiar a minha carapuça da culpa judaico-cristã, numa terra que é tudo menos prometida. quem me dera antes que.