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à partida nada me faria pegar neste clássico. quase 800 páginas na vida de uma família burguesa do século XIX, a viver numa cidade próspera da liga hanseática, como que isolado resto do mundo num jogo de deveres e aparências. e no entanto a elegância com que é escrito, a ironia fina, os momentos de absurdo (tanto para quem os lê agora como para quem os escreveu há mais de 100 anos) compensam a empreitada. há exemplos deliciosos da bolha de alienação e de falsa piedade em que vivem os buddenbrook. apenas dois exemplos deliciosos, o primeiro dos quais durante uma matiné de oração:
"- Minhas queridas! - observou certa vez a consulesa Buddenbrook que por vezes se envergonhava do aspeto das amigas. - É verdade que Deus nos perscruta o coração, mas é preciso ver que os vossos vestidos deixam muito a desejar... Não nos devemos desmazelar..."
destaco ainda um comentário aos acontecimentos revolucionários de 1848
"- Anton! - chamou a consulesa, numa voz trémula, dirigindo-se ao criado que polia as pratas na sala de jantar... - Anton, vai lá abaixo! Tranca a porta da rua! Cerra tudo! É o povo."
o volume de páginas permite-nos assistir a uma espécie de decadência suave, progressiva, durante a qual o tempo exerce o seu carácter de demolição sobre gerações que vão perdendo o pé. nada dura para sempre. embora este seja um clássico para ficar.