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Javier Cercas é um contador que desassossega os leitores. e este livro é uma lição extraordinária, ou melhor, este livro contém uma lição extraordinária, ou melhor, este livro contém várias lições extraordinárias. uma lição de semiótica cosida de uma forma muito hábil, partindo de uma imagem cheia de significados para contar uma história mais complexa. e uma lição de política, com uma análise cirúrgica em relação aos mecanismos do poder, das correlações de forças, da vaidade inerente a esses mesmos mecanismos, surja a vanitas dos meandros civis ou dos recantos mais ou menos obscuros dos quartéis. este livro também é uma lição de jornalismo literário, tendo em conta o trabalho de pesquisa, as fontes, a interpretação das mesmas, o tom e os recursos estilísticos a que o autor recorre. embora o assunto seja distinto, aqui percebem-se também algumas dinâmicas que explicam porque é que, por exemplo, a questão catalã é tão sensível. há várias razões para isso, uma delas é a espinha encravada da transição, por oposição à revolução portuguesa, que permitiu ao franquismo e ao centralismo um sobreviver fora de tempo. enfim, há muita informação por digerir, mesmo em relação a personagens que nada nos dizem. mas num momento trágico, com militares de armas em punho dentro do parlamento espanhol, houve três homens que não se jogaram ao chão. esta é, entre outras coisas, a narrativa deles. a radiografia deles.
edição dom quixote