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o cenário é a américa do século XIX mas em muitos aspectos podia ser a américa do século XXI. apesar de a escravatura ter sido abolida há muito, a segregação e os supremacismos estão muito vivos, demasiado vivos. Cora tenta escapar ao destino de grilhetas mas a cor dificilmente o permitirá, uma história mil vezes escrita, e o autor encontra forma de contá-la de novo, de uma forma sagaz, cortante. a fábula do caminho subterrâneo, espécie de hipótese mágica de salvação, é constantemente obrigada a morder o pó do real. e o real é selvagem, apesar de fazer uso do discurso dos homens. o livro não é imprescindível - um django ou um hateful eight cumprem tão bem ou melhor o papel - mas está carregado de ideias fortes. destaco a passagem que alude aos ladrões de cadáveres, destinados a uma faculdade de medicina. corpos de negros, claro, que ninguém protege, guarda ou reclama. e curiosamente é no momento de uma pilhagem do género que um personagem se apercebe de que só na morte, e usados como iguais nas mesas de autópsia, os negros têm direito à humanidade dos brancos. no fundo a estrada subterrânea é uma boa síntese um drama sem luz evidente ao fundo do túnel.
nota ainda para os agradecimentos do autor no final do livro: aos misfits, ao bowie, ao prince, ao álbum daydream nation dos sonic youth que o acompanha em todas as empreitadas de escrita. não há como não amar.
edição Alfaguara