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mesmo saturados de informação e ecrãs e redes e vídeos e fotografias compreendemos que há imagens que transportam consigo mais significados, as meninas fugindo do napalm no vietname, o homem dos sacos de plástico em frente aos tanques chineses, o então pré-candidato cavaco mastigando o bolo-rei para não responder às perguntas dos jornalistas, e por estes dias há umas imagens que rolam por aí, e que pertencem ao congresso dos feiticeiros do milagre económico, umas imagens que evito reproduzir aqui porque me fazem asco, e o asco, por enquanto ainda é universal e gratuito, como é suposto serem o ensino público e o sistema nacional de saúde, pelo menos até levarem a "pancada" final, é essa a palavra chave na comunicação do primeiro-ministro que não quero mostrar mas que me assalta desde ontem, o imaginário torpe, vagamente sexual, da pancada, do redobrar da pancada, leia-se austeridade, cortes desesperança napalm figurado sobre as nossas vidas, esse imaginário torpe acompanhado de sorrisos, sedução, vejam, congressitas, como me comprazo com o que estou a fazer, vê, país, como o faço porque quero, porque posso e porque não me arrependo, a falácia dos condicionalismos externos pode ser posta de lado, a máscara caiu, damos pancada porque acreditamos nela, porque tiramos gozo dela, porque dela sairá o homem novo, moído, cheio de nódoas negras e habituado a viver mais pobre porque o capital deve ser transferido do trabalho para as empresas, sim, porque o estado, a redistribuição que ele garante é uma coisa que fede, sim, pancada, gozo e sorrisos, como se fossem escritores de best-sellers na linha das fifty shades of orange, vejam como tiramos prazer desta engenharia social, como nos vimos sempre que fazemos estalar o chicote sobre a vossa apatia e o vosso modo de vida, e eu digo, que se foda o discurso sagaz do marcelo e a intervenção do santana e o regresso do sinistro relvas mais o inconseguimento e o autarca das caldas, a chave para esta catástrofe está naquele sorriso sem lábios. estamos assim, também, porque lhes dá gozo. e porque sabem que os piegas não levantam barricadas.